TEA: projeto leva atividades esportivas para alunos com transtorno de espectro autista e síndromes 02/04/2023 - 10:29

O projeto Transformando Esporte em Amor leva a mesma sigla de Transtorno de Espectro Autista (TEA), criado pela Universidade Livre do Esporte (ULE), que promove, em parceria com a prefeitura municipal e o Governo do Estado, atividades esportivas de quatro modalidades diferentes: tênis, basquete, futebol e corrida. 

A ideia é, por meio dos exercícios e repetições, desenvolver a relação dos alunos com a sociedade e com o ambiente familiar. Para isso, o projeto conta com 60 vagas para crianças dos 8 aos 18 anos, que são acompanhadas por profissionais de educação física, psicólogos, pedagogos e nutricionistas.

Denise Mendonça, diretora administrativa da ULE, conta que a ação com o esporte tem 6 anos e mostrou importância além das quadras. “Muitas famílias têm dificuldade de acesso à terapias. Nossas ações são a primeira e, muitas vezes, a única oportunidade”.

Acompanhando as crianças durante as atividades, o professor Celso Marquetti percebeu que, com a prática da atividade física, os jovens começam a fazer coisas que não conseguiam antes. “A ideia é que, lá na frente, eles sejam mais autônomos e precisem de menos ajuda para coisas básicas. A gente viu essa mudança de comportamento, criamos uma rotina para eles”, afirma Marquetti.

A neuropediatra Simone Carreiro Vieira entende que é de suma importância que crianças com TEA sejam expostas a estímulos físicos direcionados. “Não envolve só o treino do planejamento motor, mas também a produção de substâncias cerebrais capazes de melhorar atenção, concentração, humor e comportamento”, adiciona. Para ela, o esporte é uma forma sensacional de socialização e treino de frustrações.

ALEXANDRE RIBEIRO LUHR

Alexandre, de 11 anos, é um garoto que adora jogar videogame. Apesar de citar jogos como Minecraft e Mario Galaxy, ele afirma que escolher um jogo como favorito é a ‘coisa mais difícil de todas’. Ele vive com a mãe, Márcia, e o pai, Renato, além de duas cachorrinhas. Uma delas em especial, chamada Loba, foi adotada quando ele tinha apenas 2 anos de idade.

Na lista de coisas que ele não gosta, encontram-se itens comuns entre as crianças nessa idade: matemática e saladas. Entretanto, balas e ketchup são sempre bem recebidos. Alexandre gosta de morango, mas não de frutas. Nos esportes, disse que gosta de jogar tênis de mesa, e lamenta que não tenha a modalidade no treino.

Recentemente, ele se dedicou a uma página no Instagram, chamada @junta.ai, na qual ele se define como “Instagramer" mirim dedicado a o que há de melhor no mundo: meio ambiente e tecnologia. O intuito era engajar na preocupação com o excesso de lixo, mas se tornou um espaço para ele compartilhar sobre sua vida e seus gostos pessoais.

Ao falar da mãe, destacou os abraços que ela dá e a comparou com um ‘bichinho de pelúcia’.

DESCOBRINDO O TEA

Alexandre teve o diagnóstico de TEA fechado aos seis anos de idade, entretanto, a família já suspeitava desde seu primeiro ano de vida. O caso dele se enquadra no nível de suporte 1, o mais leve de três níveis.

Renato Luhr diz que o filho passou a frequentar o projeto TEA há quatro meses, e agradece aos idealizadores. “Isso tem trazido um grande benefício, meu filho já desenvolveu coordenação motora muito maior, e até mesmo uma maior habilidade social com as crianças ali do grupo”, relata o pai.

Márcia Oliveira conta que, uma vez ao mês, é realizado um encontro para que os profissionais conversem com a família. “Muitas vezes se esquecem de que tem uma família por trás, que dá o suporte à criança. É muito comum a pessoa que cuida abrir mão de trabalho e rotina para auxiliar no desenvolvimento da criança. É muito comum casos de ansiedade e depressão”, compartilha a mãe. 

Para avaliar a evolução do filho, os pais optaram pela terapia ABA. De acordo com a doutora Simone, o método tem base em recompensar o comportamento adequado, e bloquear o inadequado da mesma maneira. “Com a evolução do paciente, a tendência é que a necessidade de recompensas se torne cada vez menor”, explica a neuropediatra.

Outra forma de desenvolvimento social encontrada por Alexandre e sua família foi a equoterapia, Utilizando cavalos no trabalho de movimentação e estímulos, o método traz diversos benefícios terapêuticos e educacionais.

Segundo a mãe, a comunidade autista cobra muito a respeito de uma voz na sociedade.

Alexandre bem disse, no início da conversa, que não entendia o porquê da mãe participar da entrevista sobre o transtorno de espectro autista. “O autista tem que ser ouvido”, disse ele. Ele não precisa de interlocutores. Ele tem a própria voz.

 

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