Mês da mulher: homenagem às mulheres do esporte 09/03/2023 - 11:12

A data do 8 de março relembra o ano de 1917, quando mais de 90 mil operárias foram às ruas reivindicar melhores condições de trabalho e de vida. Durante muito tempo as mulheres foram impedidas de ocupar diversos espaços, na política, no trabalho, em suas próprias casas e no esporte. Com o passar dos anos, a luta das mulheres por direitos foi ganhando força. Para comemorar o mês da mulher, apresentamos a história de 7 figuras femininas que se destacam no esporte paranaense e brasileiro.

VANESSA REDES - ÁRBITRA INTERNACIONAL DE VÔLEI SENTADO

Vanessa Redes

A história da árbitra curitibana Vanessa Redes com o esporte começou cedo. Ainda na escola, participou de competições de handebol e seguiu com a paixão pelo esporte durante a adolescência. Quando chegou a hora de escolher um curso na faculdade, não teve dúvidas, era educação física. Mas esse foi só o início. Durante a faculdade, um amigo falou sobre um curso de arbitragem, na época, Vanessa decidiu participar para conseguir horas complementares, mas o interesse foi aumentando “Com o passar do tempo acabei me interessando, me dedicando e criei meu espaço dentro do vôlei. Em 2008 participei do primeiro curso de arbitragem de voleibol sentado e acabei seguindo a carreira no paradesporto, no qual hoje sou árbitra internacional ", comenta.

O esporte permitiu a Vanessa viver diversas experiências, não só ditou a faculdade que ela viria a escolher, mas também foi graças ao esporte que andou de avião e saiu do país pela primeira vez “O esporte sempre esteve em minha vida, de forma amadora, por prazer, e hoje profissionalmente. Ele me deu muitas conquistas, amigos, viagens e memórias. Literalmente abriu fronteiras para mim”. Além dessas experiências, a que mais marcou foi a oportunidade de atuar na maior competição do esporte, as Paralímpiadas de Tóquio 2020. Lá, Vanessa arbitrou a semifinal de vôlei sentado entre China e Canadá.

Vanessa Redes

Mesmo com essas vivências, surgiram dificuldades. Vanessa comenta que a barreira linguística foi uma delas, mas a que mais teve peso foi o machismo: "Infelizmente o preconceito contra mulheres ainda existe, já ouvi de técnicos que eu devia estar lavando louça, que lugar de mulher não é na quadra”, fala. Porém, o preconceito não a impediu de continuar atuando profissionalmente como árbitra, além da participação em Tóquio, Vanessa também apitou uma semifinal do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia, a final do Campeonato Masculino Série A de vôlei sentado, entre muitos outros.

Para Vanessa, ser mulher no esporte é mostrar que elas podem fazer tudo o que quiserem, mas que as oportunidades entre homens e mulheres ainda é muito desigual “Para mim, estar no esporte é estar onde eu amo, fazendo o que eu gosto e conquistando meu espaço. O esporte muda vidas, isso todos sabem, então por que ainda muda tão poucas vidas femininas?”, finaliza.

BEATRIZ E DÉBORA CARNEIRO “AS GÊMEAS DA NATAÇÃO” - ATLETAS DE NATAÇÃO PARALÍMPICA

Beatriz e Débora

Como qualquer jovem de 25 anos, Beatriz e Débora Carneiro gostam de passear, ir ao cinema, sair com os amigos e ficar nas redes sociais, mas o que as diferencia de outros jovens é que elas são atletas profissionais de natação paralímpica. Nascidas em Maringá, as gêmeas da natação (como são conhecidas), vêm se destacando no paradesporto brasileiro, ambas competem na categoria S-14, para atletas com deficiência intelectual e já participaram de uma grande lista de competições nacionais e internacionais como mundiais, parapanamericanos e até paralímpiadas. 

As irmãs começaram a nadar aos 12 anos e a partir daquele momento, o amor pelo esporte só cresceu: "A gente foi gostando e se encontrando na natação e o esporte foi abrindo portas”, comenta Beatriz. No início, Débora e Beatriz começaram suas carreiras no cenário estadual, mas não demorou para que elas chegassem em competições maiores. Em 2015, as duas participaram de sua primeira competição internacional, o Open Internacional das Loterias Caixa, em seguida passaram a integrar o ranking mundial do Comitê Paralímpico Internacional e, desde então, a trajetória de campeonatos só vem crescendo. 

Beatriz e Débora

Dos resultados que mais se destacam, está o Mundial de 2017, que aconteceu no México, onde Débora venceu nos 50 e 100 metros peito, além de ter sido vice-campeã nos 50 e 200 metros borboleta; na mesma competição, Beatriz conquistou a prata nos 100 metros peito. Já nos Jogos Parapan-Americanos de 2019, em Lima, Beatriz subiu ao pódio três vezes, ouro nos 200 metros medley, prata nos 100 metros medley e bronze nos 200 metros livre e Débora foi campeã nos 100 metros peito e vice-campeã nos 200 medley. 

Além desses campeonatos, as gêmeas alcançaram um dos maiores sonhos de todo atleta: fazer parte da seleção brasileira nos Jogos Paralímpicos. Beatriz foi para Rio 2016 e Tóquio 2020, em Tóquio, ela conquistou a medalha de bronze nos 100 metros peito. Débora não foi para Rio 2016 por causa de uma apendicite, mas em 2020 integrou a seleção paralímpica, onde conquistou o bronze no revezamento 4x100 livre.

Mesmo com grandes conquistas na carreira, as dificuldades e o preconceito ainda existem. Beatriz conta que nunca sofreu machismo, porque para elas tudo que um homem faz, uma mulher também pode fazer, mas o preconceito quanto à deficiência aconteceu e ainda acontece na vida das irmãs “As pessoas ainda não conseguem entender o que é uma deficiência intelectual, eles ficam falando ‘ai não entende nada, é burrinha’ e esse tipo de coisa, eles não sabem a nossa história. A gente ainda sofre preconceito, mas eu nem ligo mais ", comenta. Débora diz que nem sempre foi fácil, porque a deficiência muitas vezes impõe certas dificuldades “Até hoje a gente sofre preconceito, não pelo fato de ser mulher, mas pela nossa deficiência, de a gente não conseguir acompanhar nossos amigos na escola em questão de conteúdo, de interpretar certas coisas que a gente não entende”, complementa. 

Beatriz e Débora

A atleta Ana Marcela Cunha, da maratona aquática, é uma das inspirações para Beatriz e Débora, mas uma das mulheres em quem as irmãs mais se espelham é a mãe, Vivalda, que faleceu quando elas tinham 11 anos: “Minha mãe me ensinou muito, a ser guerreira não desistir fácil das coisas, enfrentar os problemas e ir sempre em frente. Ela era uma pessoa muito persistente, eu me inspiro nisso e tento ser um pouco dela”, comenta Débora.

As atletas são influência para diversas meninas que estão iniciando na vida esportiva, “Eu vejo essas garotinhas aqui sentadas olhando para a gente e pensando ‘puxa, um dia eu quero ser igual elas, uma atleta que vai disputar uma olimpíada', então eu sei que a minha presença no esporte é muito importante”, fala Débora. Para Beatriz, o esporte proporciona que mulheres mostrem seu potencial: “Nós mulheres temos que mostrar que podemos mais, que a gente não pode desistir dos nossos sonhos. Ser mulher é tão bom, então a gente tem que aproveitar. A gente tem que sonhar de igual pra igual, não importa se é homem ou mulher”, finaliza.

BETHÂNIA INARA DE OLIVEIRA - DIRETORA ADMINISTRATIVA DA PARANÁ ESPORTE 

Bethânia Inara

Quando falamos em esporte, sempre pensamos em atletas e técnicos, mas por vezes esquecemos daqueles que trabalham por trás das cortinas, os gestores esportivos.

A curitibana de 32 anos, Bethânia Inara de Oliveira, trabalha há 12 anos na Secretaria de Estado do Esporte. Atualmente é diretora administrativa financeira, mas entrou na SEES como estagiária, “Para começar a trabalhar, eu fui totalmente contra o que meus pais queriam, porque eu morava longe e demorava em torno de 1h30 de ônibus só para chegar ao trabalho. No ano de 2012 fui para o setor de licitações, local onde aprendi muito e me identifiquei com o Direito Administrativo”, comenta.

Bethania Inara

Em 2023, Bethânia recebeu o desafio de assumir a diretoria administrativo financeira, local que traz novos obstáculos a serem trabalhados, “Aqui tem um grau a mais de dificuldade, pois depende de uma maior aceitação hierárquica e de respeito de todos, mas sei que irei realizar um ótimo trabalho, pois não faltará dedicação e empenho”, afirma.

Para a diretora, diversas mulheres do esporte a inspiram para desempenhar um trabalho melhor: “Tenho muitas mulheres que me inspiram aqui dentro do esporte e tenho certeza que posso contar com cada uma delas para realizar uma gestão com excelência”, finaliza Bethânia. 

JOYCENARA “JOYCE” BAPTISTA - EX-ATLETA DE BASQUETE E PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Joycenara

Uma das atletas de maior relevância no basquete brasileiro é Joycenara Baptista, também conhecida como Joyce. Além de ter atuado ao lado de atletas como Hortência Marcari, conquistou junto a seleção brasileira de basquetebol feminino o ouro nos Jogos Panamericanos de 1991, realizado em Havana, foi campeã no Sulamericano de Basquete Adulto (Colômbia,1991) e participou dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992.

Joyce começou na modalidade aos 11 anos, no Clube Curitibano, aos 16 começou a jogar profissionalmente, quando foi convocada para fazer parte da seleção brasileira juvenil, “Fomos disputar um sul-americano em Bogotá, onde conseguimos ser campeãs sul-americanas, então falei para os meus pais que tinha amado e queria isso para minha vida, aí fui para São Paulo jogar profissionalmente, me destaquei, fui para a seleção principal e assim, durante quase 10 anos, participei de vários campeonatos”, comenta.

Depois de anos se dedicando ao esporte, Joyce decidiu que era hora de realizar o sonho de ser mãe e durante mais de quatro anos, dedicou-se totalmente à criação da filha, Amanda, pois queria acompanhar o desenvolvimento da criança “Depois que ela nasceu fiquei vivendo em função dela, era isso que eu queria, ver as primeiras palavras, a primeira tentativa de engatinhar e logo depois os primeiros passos, depois disso resolvi retomar a minha vida”, fala. 

Joycenara

Joyce retomou os estudos e entrou na faculdade de educação física, onde descobriu que seu amor não era só pelo basquete, mas pelo esporte como um todo e principalmente pela educação. Ela comenta que gosta de poder direcionar crianças no universo desportivo, para no futuro vê-las tornando-se atletas: “Sou professora de coração, eu amo ensinar, gosto quando a criança vem com aquele olhinho brilhando falando que não sabe fazer alguma coisa e eu tenho a oportunidade de ensiná-la”.

Para a ex-atleta, ser uma mulher no esporte é mostrar que tem capacidade de desempenhar diversas atividades, como ser atleta, técnica, ou gestora e possibilitar que caminhos sejam abertos para todas as mulheres e meninas que têm o desejo de entrar neste meio: “É muito difícil porque ainda existem mulheres sendo impedidas de praticar esporte em alguns países, isso é muito muito triste, mas estamos todas aí, lutando cada dia mais para alcançar tudo que merecemos”, finaliza.

BÁRBARA DOMINGOS - ATLETA DE GINÁSTICA RÍTMICA 

Barbara Domingos

Bárbara Domingos, é atleta desde os cinco anos. Inicialmente começou na ginástica artística, depois migrou para a ginástica rítmica, onde está há 18 anos. Hoje com 23 anos, Bárbara já conquistou diversos títulos: a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, uma marca histórica para o Brasil, também foi a primeira brasileira a participar de uma final individual, no Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica, em 2021, ficando em 17º lugar na competição e batendo seu recorde de 2019. Além desses resultados, Bárbara foi 8 vezes campeã brasileira e 6 vezes campeã sul-americana.

Dentre as muitas dificuldades que já enfrentou no esporte, uma das que mais marcam a atleta é conseguir cumprir todas as exigências do código de pontuação da ginástica, mas Bárbara conseguiu contornar essas barreiras, “na ginástica temos um código que muda de quatro em quatro anos, quando eu entrei, o código não me valorizava muito, porque nunca tive muita

Bárbara Domingos

flexibilidade na coluna e nas pernas, então tive que usar ferramentas diferentes e me destaquei ao fazer coisas difíceis”, comenta.

Para a atleta, ser mulher no esporte é mostrar garra, determinação e resiliência, mesmo que em muitos momentos seja difícil:  “só nós mulheres sabemos o que a gente passa dentro do esporte, então, ser mulher é sinônimo de garra, de nunca desistir dos seus sonhos, porque não é fácil, mas é importante acreditar no processo e persistir”, finaliza.

 

 

MÁRCIA NAVES - TÉCNICA DE GINÁSTICA RÍTMICA

Márcia e Bárbara

Formada em Educação Física e morando em Curitiba há 22 anos, a técnica baiana Márcia Naves especializou-se na ginástica rítmica, esporte onde atua até hoje, tendo já treinado diversas estrelas da modalidade, como Bárbara Domingos. 

Márcia conta que ser técnica é desempenhar diversos papéis que vão além do treinamento, “ser mulher é ser uma super-heroína, porque a gente faz várias coisas, eu sou um pouco psicóloga, um pouco mãe, um pouco médica, além de estar todos os dias trabalhando, a gente ainda tem que cuidar da casa, do marido, dos filhos”, diz. 

Como técnica do alto rendimento, Márcia conta que muitas vezes passa mais de um mês longe de casa, então, sempre tenta conciliar e administrar a vida profissional com a família e a casa: “é surreal o que a mulher é capaz de fazer, antes eu brincava que numa próxima encarnação eu queria vir homem, mas hoje não, eu quero ser mulher, porque eu sei que nós somos muito poderosas, temos aquela coisa do cuidado e da proteção que é só nosso”, finaliza.

 

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