Bolsista do Geração Olímpica e Paralímpica integra à equipe técnica da seleção brasileira de Goalball 17/11/2021 - 13:42

Após uma excelente temporada em Tóquio, a seleção feminina de Goalball se consagrou a quarta melhor do mundo, depois de um jogo difícil e polêmico contra as anfitriãs. Poucos meses depois dos jogos, veio à público a notícia de que a comissão técnica da seleção estava sofrendo alterações. Dentre as várias mudanças, uma conquista para o Paraná: o bolsista do Geração Olímpica e Paralímpica, Márcio Rafael da Silva, foi convocado para atuar como preparador físico da equipe feminina.

Seu caminho até chegar no Goalball foi longo e começou pelo atletismo. Formado em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina e professor concursado, Silva atua desde 2006 no Instituto Roberto Miranda, cuja missão é a de servir aos deficientes visuais, preparando-os e instruindo-os para uma vida produtiva em sociedade. Em seu primeiro ano no Instituto, treinava atletismo com os adolescentes da instituição. Quando surgiu a oportunidade de participar dos Jogos Colegiais do Paraná - JOCOPs (antigos JEPS), Silva viajou os quase 400 km de Londrina a Curitiba com a equipe para participar da competição.

Para seu eterno orgulho, os meninos foram muito bem nos jogos e os responsáveis pelo desporto escolar na capital convidaram Silva para as Paralímpiadas Escolares, competição que aconteceria em Brasília no final do ano. “Eles me falaram que eu teria que ter uma equipe de goalball para participar e eu disse que tínhamos. Por que fiz isso? Porque queria estar por dentro de tudo”, relembra, rindo. 

Diante do novo desafio, Silva passou os meses seguintes pesquisando as regras de um jogo que, até então, era desconhecido para ele. Formou uma equipe com seus melhores atletas e viajou mais de 1000 km até Brasília. Lá, teve uma experiência fantástica e enriquecedora enquanto professor e técnico. A chave foi acionada: o Instituto teria uma equipe adulta de goalball e Silva seria o treinador dela. 

Desde então, são 15 anos de experiência à frente da equipe de goalball de Londrina e é este conhecimento que Silva espera levar à seleção brasileira. “Eu estou entusiasmado, motivado, muito feliz com o convite. Imagino que seja o sonho de qualquer profissional, não só com o goalball, chegar em uma seleção brasileira”, confessa. 

As primeiras reuniões com a comissão técnica já aconteceram e a ideia é melhorar a preparação física, técnica e tática das atletas. Tudo isso mirando o objetivo de conquistar a medalha inédita para o goalball feminino que ficou em quarto lugar nas Paralimpíadas do Rio 2016 e de Tóquio 2020. 

Quanto aos próximos passos, a seleção feminina entra em quadra em fevereiro para o Campeonato das Américas, em São Paulo. O objetivo deste evento é se classificar para o Mundial, que será disputado em junho, na China. Lembrando que a seleção feminina foi bicampeã nos Jogos Parapan-Americanos (2015 e 2019) e bronze no último Mundial, disputado em 2018. Logo, atualmente, é a terceira melhor equipe do mundo.

 

tecnico marcio rafael de goalball
Copa Brasil de Goalball, Série A, 2018. Na foto, equipe técnica e atletas comemoram um gol da equipe.

Geração Olímpica e Paralímpica e o incentivo ao paradesporto

Márcio Rafael da Silva atualmente é bolsista técnico do Programa Geração Olímpica e Paralímpica. Veterano, já participou de sete editais e reconhece a importância do incentivo. “Em escala nacional, o programa é o maior incentivo estadual para pessoas com deficiência que temos hoje. Isso estimula o atleta a se dedicar cada vez mais. Eu só tenho o que agradecer, tanto à prefeitura de Londrina que auxilia nosso Instituto, como ao Geração, que sempre apoiou o esporte de maneira plena”. 

Para a coordenadora do Programa, Denise Golfieri, a convocação de Márcio para a seleção feminina de Goalball é um reconhecimento imenso e confirma o papel assertivo do incentivo público na construção de carreiras esportivas. “O Márcio está conosco desde a primeira edição, é um dos nossos técnicos bolsistas mais antigos. Gratificante para nós o reconhecimento destes profissionais que dedicam uma vida toda na função técnica, orientando, acompanhando, desenvolvendo este importante papel que resulta nas conquistas de seus atletas”, declara.

Neste aspecto, é importante reforçar que, em 2021, o Geração Olímpica e Paralímpica destinou 104 bolsas para atletas com deficiência física e intelectual. Destes, 16 possuem deficiência visual (cegueira ou baixa visão) e praticam as modalidades de atletismo, futebol de 5, goalball, judô e natação. Quanto aos técnicos, 26 deles auxiliam exclusivamente atletas com deficiência nas mais diversas modalidades. 

O projeto consiste em conceder incentivo financeiro para atletas e técnicos em diferentes categorias, desde a base até o alto rendimento. Atualmente, é o único que destina uma porcentagem das suas bolsas aos técnicos. Em 10 anos de história, chega à marca de mais de 10 mil atletas contemplados, somadas todas as edições. Somente na atual, a 10ª, são 1.250 bolsas ofertadas e um aporte financeiro de R$ 4.750.000,00.
 

Regional Sul de Goalball em 2019.
Regional Sul de Goalball em 2019.

 

Histórico do Goalball: Paraná é pioneiro na modalidade 

Importado dos Estados Unidos, o Goalball teve sua primeira manifestação na capital paranaense em 1985. Entre os pioneiros da modalidade está Steven Dubner, do CADEVI (entidade de atendimento às pessoas cegas de São Paulo), e Mario Sérgio Fontes, da Associação dos Deficientes Visuais do Paraná e hoje coordenador do paradesporto no Paraná, dentro da Superintendência Geral do Esporte. Meses depois, a primeira competição entre as associações aconteceu nas dependências do ginásio de Educação Física da Universidade Federal do Paraná.

O apelo da modalidade é fácil de explicar. Além de ter sido criada exclusivamente para deficientes visuais (portanto, não é um esporte adaptado do convencional como Futebol de 5, por exemplo), a falta de contato entre os jogadores a torna mais prática de ser desenvolvida e mais segura para os praticantes. Muitas vezes comparado com o vôlei, o goalball se passa em uma quadra 18m por 9m, onde toda a linha de fundo é o gol. A quadra é adaptada com linhas e marcações feitas com fitas e barbantes para percepção tátil. Já a bola pesa 1,5kg e possui um guizo dentro. 

“Por causa de todas essas características, o goalball gera um estímulo às necessidades básicas das pessoas com deficiência visual. Audição e percepção tátil é importante não só para a modalidade, mas para o dia a dia; para que a pessoa possa sair na rua e saber da onde vem o carro, da mesma forma que precisa treinar os ouvidos para saber da onde vem a bola”, explica Fontes. 

Após um ano do primeiro jogo travado entre as entidades de São Paulo e Paraná, Curitiba sediou o primeiro campeonato brasileiro da modalidade, reunindo mais estados e municípios. O segundo campeonato ocorreu em Maringá, em 1987. Como atleta, Fontes foi bicampeão brasileiro em 1988 e 1989. Em menos de 40 anos desde a primeira vez que uma partida foi travada aqui, o Brasil já fez história com várias medalhas tanto na seleção feminina, quanto masculina. Nesta última, os meninos levaram ouro em Tóquio 2022, por exemplo.  

Atualmente, Fontes trabalha para montar uma equipe em Curitiba. No Paraná, a modalidade é praticada em Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá, Francisco Beltrão, Cascavel e Guarapuava.