Medalhista no Pan de Lima conta a rotina do “atleta completo” | Entrevista com Isabela Abreu 17/08/2020 - 17:09

Esporte mais antigo das Olímpiadas, o Pentatlo costumava ser uma competição atlética composta por corrida, salto em distância, salto em altura, arremesso de disco e luta. Foi no início do século XX que o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, Barão Pierre de Coubertin, decidiu modernizar a competição, substituindo alguns esportes e configurando o que conhecemos por pentatlo hoje, com natação, tiro, corrida, hipismo e esgrima. É nesse cenário que a atleta de hoje — quarta convidada das lives do Esporte Paraná — brilha:  Isabela Abreu, medalhista nos Jogos Pan-americanos de Lima em 2019 e três vezes campeã brasileira. 

“O pentatlo foi introduzido na Olimpíada com a ideia de trazer um atleta completo” — Explica Isabela, que completa: “Assim, ganha quem, na somatória das notas das cinco provas, conseguir o melhor resultado”. A curitibana, que sempre amou correr, tinha apenas 14 anos quando seu técnico, Marco André, lhe apresentou o esporte. Foi a primeira da sua modalidade a conseguir, em 2015, uma bolsa no programa Geração Olímpica e hoje é atleta de alto rendimento do Exército Brasileiro. Sua meta primordial é integrar a equipe brasileira de pentatlo moderno nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio. 

Nesta entrevista, concedida através da live na página do Esporte Paraná, Isabela contou um pouco sobre esse curioso esporte e as dificuldades enfrentadas nele. Lembrando que as lives acontecem às 17h nas terças e quintas-feiras, com transmissão pelo Instagram e pelo Facebook. Para conferir a reportagem ao vivo na íntegra, acesse nossa página no Instagram
 

Como é a logística de treino quando se pratica cinco esportes diferentes?
É pesada. Como sou terceiro sargento no exército brasileiro, tenho a oportunidade de treinar no Colégio Militar de Curitiba. Eles têm uma estrutura que me permite praticar o hipismo, a corrida e o tiro. Já a natação e a academia eu faço separado na Mobi Dick, e a esgrima no Mestre Kato. É uma logística de transporte complicada, entre Centro e Tarumã.  
 

Como funciona os pesos de cada prova?
O certo seria não ter peso. Em todo ciclo olímpico eles procuram o equilíbrio, mas é difícil. Atualmente o que vale mais, e portanto o que mais faz diferença, é a esgrima e a corrida. Já a natação, como é muito difícil baixar seu tempo nela, é a que tem menos peso. Natação é um esporte pouco valorizado dentro do pentatlo.  
 

Qual modalidade tem maior facilidade e dificuldade? 
Como eu vim do atletismo, a minha facilidade é a corrida. Minhas maiores dificuldades são a natação e a esgrima. Em 2018 passei a treinar natação e preparação física com o Leonardo Sumida. Durante esse período consegui evoluir muito e juntos desenvolvemos uma relação de muita confiança. Nos Jogos Pan Americanos de 2019 eu bati minha melhor marca pessoal nos 200 metros livres. Já a esgrima é difícil porque nosso nível não se compara com o internacional. Nos campeonatos brasileiros a minha esgrima é muito boa, mas quando vou em competições internacionais, fico para trás. Sei que é um esporte que eu tenho que trabalhar mais.
 

Como funciona no hipismo? Você compete com o seu cavalo? 
Funciona por sorteio, por isso digo que é um esporte ingrato. Quem conhece o hipismo clássico sabe que tem toda uma conexão entre o atleta e o animal. Nós temos vinte minutos para aquecer com o cavalo sorteado e a prova tem dois obstáculos, onde só podemos saltar cinco vezes. Também temos a oportunidade de vê-los antes do sorteio, mas não é muito parâmetro, ainda que a gente consiga fazer algumas anotações. Nos meus treinamentos eu sempre procuro variar os animais, porque preciso estar preparada para o que der e vier. Mas o cavalo é um animal, tem dias que está feliz, tem dias que está triste. A questão mesmo é a adaptabilidade do cavaleiro.
 

Os atletas militares tem alguma vantagem técnica comparado aos outros?
Tem muitos militares que praticam o pentatlo moderno. Geralmente nossos brasileiros treinam na Academia das Agulhas Negras em resende (RJ), porque lá tem toda a estrutura para treinar as cinco modalidades em um só lugar. Não se preocupar com a logística do deslocamento é um sonho de consumo de qualquer atleta. A questão é que o atleta militar tem outras funções que não apenas ser atleta. No fim, os não militares se destacam porque possuem mais tempo para treinar. Eu faço parte de um programa de alto rendimento para atletas, então meu único trabalho lá é treinar e competir. 
 

Quais atletas são os destaques atuais no pentatlo mundial? 
Tem se destacado uma britânica, Joanna Muir. Ela é novinha, tem apenas 24 anos e ganhou as duas provas que tivemos esse ano. Uma delegação que quase ninguém conhece também é a da Lituânia. A Laura Asadauskaitė foi campeã em 2012, mas no Rio 2016 ela teve um acidente no hipismo e não conseguiu terminar a prova. Se tivesse terminado, teria sido bicampeã olímpica. E a corrida dela, então…. sem igual. Ela é a melhor corredora do pentatlo atualmente.
 

Yane Marques, pernambucana, conquistou uma medalha de bronze para nós em Londres. Qual foi a importância da medalha pro pentatlo brasileiro?
Treinei bastante com a Yane no pré olímpico da Rio 2016 no Colégio Militar, aqui em Curitiba. Foi sensacional ver ela treinando, ela é muito esforçada e talentosa. Quanto à vitória de Londres, não sei se para ela foi uma surpresa — penso que sim — porque a prova foi uma das últimas e ninguém mais estava contando com uma medalha. Foi inesperado. Ela sempre esteve no top 10 mundial, mas ser medalhista olímpica não é uma coisa corriqueira. Mas eu penso que, em termos de repercussão, a medalha não foi bem aproveitada em 2012, e sim quando ela ganhou a votação para ser porta bandeira na Rio 2016. Aquele momento foi o de maior reconhecimento, ainda mais porque ela estava competindo com grandes atletas e a votação foi popular. 
 

Você foi três vezes campeã brasileira, é uma atleta ranqueada, e ganhou uma medalha de bronze no Pan Americano. Como foi esse momento para você?
Foi inesperado, porque estávamos competindo com as meninas do México, Cuba, Guatemala e Estados Unidos, que são ótimas. A América tem times muito bons, eu ganhei bronze no revezamento feminino, junto com a Patricia Oliveira. Como cada uma faz metade da prova, a competição fica bem dinâmica. Eu estava vindo de uma decepção forte no individual por não ter conseguido uma vaga nos jogos olímpicos, que era o meu objetivo. Quando chegou o Pan eu estava meio triste, mas foi uma competição tranquila, leve, e eu consegui dar 100% de mim naquela prova, o que resultou na medalha história no revezamento. Por enquanto a medalha está guardadinha, mas vou enquadrar e ela vai ter um lugar especial, porque é uma medalha especial.