"É um esporte difícil, mas chama a atenção da molecada" | Entrevista com Alisson Vasconcellos 07/08/2020 - 11:20

Alisson de Souza Vasconcellos, 24 anos, passou mais da metade da sua vida jogando Badminton. A dedicação é perceptível quando olhamos para a sua estante de troféus, abarrotada de medalhas. Alisson é campeão estadual de Badminton por 11 anos consecutivos, além de medalhista do Pan-Americano e campeão Nacional em 2019. Também é atleta do Geração Olímpica desde 2011, ano da sua implementação. 

Alisson conheceu o Badminton através da Ação Social São Vicente de Paulo, associação civil em Toledo (PR) que atende cerca de 300 crianças em projetos de caráter educacional, cultural e esportivo. Quando o professor Valdecir Barbosa começou a dar aulas de Badminton, logo o aluno se destacou. Atualmente, Alisson também ajuda a associação ministrando aulas de Badminton para as crianças. Assim, devolve todo o conhecimento que aprendeu e oportuniza o descobrimento e aperfeiçoamento de novos jovens talentos. 

O atleta é o segundo convidado das live do Esporte Paraná. A iniciativa, que acontece às 17h nas terças e quintas-feiras com transmissão pelo instagram e pelo facebook, visa abrir espaço para atletas, técnicos e profissionais da área compartilharem suas experiências com o público de maneira mais acessível e transparente. 

Nesta entrevista, Alisson conta um pouco sobre sua trajetória, suas conquistas e experiências jogando Badminton. Para conferir a reportagem ao vivo na íntegra, acesse nossa página no instagram

 

Você começou muito novo, com quase 12 anos, graças ao professor Valdecir que iniciou o projeto de Badminton. Como foi esse processo? Qual a sua relação com ele?
Eu jogava no contraturno da escola, mas naquela época a gente só tinha futsal. O Valdecir conta que estava assistindo as Olimpíadas na TV quando viu Badminton e decidiu testar com as crianças. Começamos a bater peteca, ele foi estudando, se aperfeiçoando, e eu fui gostando mais. Eu agradeço muito o Valdecir, nem sei onde estaria sem ele. Muitas vezes foi quem me buscou para ir treinar. Quando eu queria faltar treino, ele não deixava [risos]. Nosso vínculo é muito grande. Foi ele quem me influenciou a fazer educação física. De professor, virou meu amigo, depois colega de trabalho, agora sócio. Eu trabalho de manhã na academia dele, como professor de musculação. Treino a tarde na academia e de noite sou professor pelo projeto, dando aula para a molecada. 
 

O badminton é um esporte bem lúdico. Você acha que isso ajuda na captação das crianças? 
Ele é um esporte cativante. Observo a mesma coisa que aconteceu comigo na Ação social: as crianças ficam um pouco receosas no começo, mas se você perguntar agora se elas preferem futsal ou badminton, a resposta vai ser badminton. É um esporte difícil, mas chama a atenção da molecada. 
 

Como você enxerga dentro do badminton a transição de jogador da escola e o atleta de carreira? 
Na minha época de escola não era tão forte, não era praticado. O Paraná tem muitos jogos e campeonatos, e mesmo no Badminton temos quatro estaduais, além de Escolares, Abertos, Jogos da Juventude (JOJUPS), Jogos Universitários (JUPS), Parajaps… Mas eu acho que as secretarias das cidades deveriam ter mais projetos para fortalecer o profissional de educação física que deseja entrar no Badminton. E a criançada que está saindo da escola, que não tem onde treinar, pode treinar em centros de juventude ou escolas da secretaria. 
 

Lembra qual foi o seu primeiro título? 
Em 2007, em Palmas (PR), fiquei em segundo lugar. Lembro porque, quando cheguei em Toledo, bati uma foto para estampar uma matéria divulgando a competição. Quando tirei a foto, segurava a medalha de prata ao contrário [risos].
 

Que qualidade dentro do badminton você acha que te destaca dos demais?
Eu sou muito persistente e tenho muita força de vontade. Badminton pode não parecer, por ser um espaço pequeno, mas você precisa de um bom preparo físico e, para isso, precisa treinar muito. Você tem que ter muita força e potência de membro inferior. O trabalho de fortalecimento muscular, articulação de ombro e joelho, precisa ser completo. E acredito que não só no badminton, mas em outros esportes também. E quanto mais velho, mais treino. Precisa de bons reflexos, potência, explosão, velocidade… Capacidade física elevada, do modo geral. 
 

Além do Geração Olímpica, há outro projeto vinculado ao governo do estado que participa?
O Geração Olímpica foi a minha primeira bolsa dentro do Badminton, acho que ganhava 500 reais, e isso me incentiva de uma forma… Mas na Ação Social nunca fizemos parte de nenhum projeto. Essa foi a primeira vez que submetemos no PROESPORTE e fomos contemplados. Deu uma super aliviada, porque como somos um projeto social, não temos muitas finanças. E não é uniforme e material para 2 crianças, são para 100. É muito difícil, nós sabemos como vivemos: através de rifas, de feijoada, de doação. É assim que levamos as crianças para as competições. Agora eu não sou apenas um atleta, mas também professor, consigo ter essas duas visões e ajudo os moleques que estão começando. 
 

Qual foi a derrota mais dolorosa e a vitória mais gostosa?
A mais dolorosa foi em 2017, no JUPS, quando fiquei em segundo lugar. Achei que nao ia conseguir jogar nos Universitários Nacionais, mas foram chamados dois atletas, o primeiro e o segundo lugar. E eu já joguei cinco JUPS, e quatro vezes fui campeão. Foi uma derrota dolorosa porque achei que meu sonho tinha ido embora. E a vitória foi no campeonato nacional ano passado, tanto na simples como na dupla. Eu pratico diariamente Badminton há mais de dez anos, e eu nunca tinha conseguido ser campeão nacional, apenas estadual ou Sul Americano. Quando chegava no nacional, batia na trave, porque é uma categoria muito difícil. Tem o Ygor Coelho, atleta olímpico brasileiro, entre outros que sempre me complicou. Ano passado, pela primeira vez, consegui chegar no nacional e consegui o ouro no simples e na dupla. Foi uma vitória muito especial. 
 

Você já viajou bastante pelo Badminton. Conheceu muito lugar legal? 
Rapaz, já conheci uns nove países, vários aqui na América Latina. E pelo Brasil então… já rodei o Paraná inteiro. Uma viagem que me marcou bastante foi em 2017, nas olimpíadas universitárias, que aconteceu na China. Fiz até uma tatuagem representando o momento, porque foi o ápice da minha carreira esportiva. As olimpíadas foram sensacionais, ter a oportunidade de estar junto com os melhores atletas do mundo, na mesma vila olímpica, assistindo os caras, jogando junto… É outra vibe.
 

Você sente que a atmosfera dos jogos tem o poder de mudar nossa maneira de pensar?
A gente começa a ver as coisas de outra forma. Antes você achava que era bom, mas quando vê os outros jogando… Volta mais empolgado pra casa, pensando em treinar mais até alcançar o nível deles. Badminton não é muito divulgado no Brasil, não somos como a Ásia e Europa que tem muito investimento. Mas estamos caminhando. 
 

Nas viagens que fez, conseguiu conhecer um pouco da cidade? 
Sim, conseguimos. Seja no final ou no começo da competição, dar uma espairecida, uma relaxada.  Alguns campeonatos são longos, então temos alguns dias antes para se adaptar. No começo desse ano viajamos para a Bahia e ficamos uma semana lá. Tem criança que nunca tinha visto a praia, então proporcionou muitas coisas. Isso que é legal do esporte, além de visitar lugares, você também faz amizade que nem imaginava. Tenho amigos que conheci lá na China; amizades para uma vida toda.
 

O que é preciso para o brasileiro ter uma vaga em Tóquio?
Circuito Olímpico. Acredito que todas as modalidades tem o circuito olímpico, que é por ranking e decisão do técnico. O Vitor, do parabadminton, é um atleta que viaja internacionalmente e ganha todos os campeonatos brasileiros, então tem resultados expressivos. Ele precisa fazer campeonatos para somar ponto e entrar no número de vagas. No Badminton é o mesmo critério, você precisa somar pontos indo em competições internacionais, campeonatos europeus... E claro que, para isso, também é preciso ter muito dinheiro.
 

Gostaria de deixar uma mensagem? 
Uma indicação minha, porque é a minha realidade, é levar em paralelo o estudo com o esporte. Não recomendo só pensar em treinar.  Para o pessoal que está acabando o ensino médio: não parem de estudar. Hoje eu estou fazendo licenciatura, já sou formado, mas sempre estou envolvido em algum curso. Sou feliz na área que estou atuando. Espero um dia ser um técnico e fazer grandes marcas no esporte do Paraná.