Carisma e sucesso em dobro | Entrevista com Beatriz e Débora Carneiro 05/11/2020 - 11:39

As nadadoras Beatriz e Débora Carneiro, bolsistas do Geração Olímpica, são as grandes promessas para a Paralimpíada de Tóquio. Deficientes intelectuais (DI), mostram nas piscinas o talento e a paixão que compartilham. No Panamericano em 2019, disputado no Peru, as gêmeas levaram para o Brasil nada menos que cinco medalhas, duas de ouro, duas de prata e uma de bronze. Também no mesmo ano, disputaram em Londres o Mundial de Natação Paralímpica. Ali, Débora conquistou o terceiro lugar nos 100m peito. Depois foram para a Austrália no INAS Global Games (exclusivo para DI) e, ao lado de Ana Soares e Stephanie Ariodante, fizeram 4min16s80 no 4x100m livre e 2min11s73 no 4x50m medley, quebrando assim dois recordes mundiais em provas de revezamento. Apesar da pandemia da Covid-19, as gêmeas continuaram focadas no treinamento e não veem a hora de mostrar todo esse esforço nas piscinas asiáticas.

Nesta entrevista, concedida por meio da live na página do Esporte Paraná, Beatriz e Débora falam sobre seus ídolos, conquistas e expectativas para Tóquio. Lembrando que as lives acontecem às 17h nas terças-feiras, com transmissão pelo Instagram e pelo Facebook. Para conferir a reportagem ao vivo na íntegra, acesse nossa página no Instagram.

Começando pelo Parapan, em Lima. Como foi?
Beatriz:
Meu coração funciona assim, eu me empolgo quando chego nos lugares. Cheguei lá gostando de tudo. Confesso que na prova do medley eu fiquei um pouco insegura, mas fui treinando para isso. E foi assim, estava feliz, ansiosa e empolgada o tempo todo. Nessas competições eu sou bem tranquila e brincalhona.
Débora: Foi divertido, eu cheguei lá focada porque, como meu técnico [André Yamazaki, também bolsista do Geração Olímpica] diz, a gente tem que focar nas situações. De pouquinho em pouquinho fui me soltando, até me acostumar com o clima e as pessoas. Mas estava muito focada, tanto que baixei cinco segundos na minha prova de peito. O André sempre fala que eu sou mais focada que a Bia. 

Nas competições, além das piscinas, vocês gostam de conhecer os lugares?
D: Tenho duas respostas: primeiro gosto de saber onde a gente vai ficar, como é o quarto e como é a galera, depois é só piscina. 

Logo que voltaram de Lima foram para Londres, disputar o Mundial de Natação Paralímpica. Como foram os resultados?
D: O meu foi espetacular, porque a medalha não estava nos meus planos, e fazer duas competições seguidas é muito cansativo. Eu até esperava ir para a final, mas pegar a medalha eu não imaginava. 

Foi nos 100m peito que você conquistou esse bronze. É a prova que nadam melhor?
D: Isso, é a prova que temos mais chance de ir para Tóquio. Em Londres fiz 1.17, foi bem baixo, mas aumentei 1s do meu tempo de Lima. 
B: Eu estava cansada por causa de Lima. Eu tenho 22 anos, mas a energia durante as provas vai passando muito rápido. O cansaço aumentou por conta da viagem, não foi só de nadar, mas a programação é cansativa. O fuso horário muda a nossa cabeça e confunde muito, os voos internacionais são apertados. A prova foi mais ou menos ruim na verdade, eu não estava com o pensamento de “voar”, nadei por nadar porque estava desanimada. Fiz 1.19 no peito. Fui pra final, mas não nadei bem. 

No mesmo ano vocês também foram para a Austrália. Dessas três provas em 2019, qual resultado consideram o melhor?
D: As medalhas mais importantes para a gente foram a do revezamento, porque foram recordes mundiais. Pelo revezamento eu nado borbo [borboleta] sempre. Gosto das duas provas, mas acho o borbo lindo e técnico para nadar. No treino a gente dá umas erradas nas técnicas de peito e borbo, mas o costas a gente não sabe nadar, é exceção. 

Qual a dificuldade do nado de costas para vocês?
D: Eu travo muito, não sei o que acontece.
B: Eu acho difícil tudo. Nem o nado bordo eu sou chegada, gosto de nadar peito.

Quem define isso é você ou o técnico?
D: De vez em quando é o André.
B: Ele pede e eu faço, mas se ele não pedir eu não faço. 

Vocês competem uma contra a outra também?
B: Dentro da piscina nós somos rivais, isso é normal. Mas torcemos uma pela outra. Nosso verdadeiro rival é o relógio. 

Lembro que na Rio 2016 a Débora chorou enquanto via a competição da Bia.
B: Ela estava mais nervosa do que eu, porque toda vez que eu entrava na piscina ela dizia que eu ia queimar a largada, mas eu estava de boa nadando. 

Em todas as competições vocês estão ali, ganhando prata ou ouro. É difícil separar, são as gêmeas da natação.
D: E se uma de nós faz alguma coisa errada, a culpa também é das gêmeas. [risos]

Falando de Tóquio agora. Quais são chances?
B: A gente está se preparando e estamos fortes. A preparação vem desde o começo do ano e estamos fazendo tempos bons. 
D: A dieta não está aquilo tudo, mas eu perdi peso nessa pandemia. Esses dias fizemos a tomada de tempo e o André disse que se fizermos o mesmo tempo que fazemos nos treinos, a vaga pra Tóquio é nossa. 
B: Nós não paramos de treinar. Eu nado pensando nos meus objetivos, no meu nado. Só o coração que não aguenta, ele fala mais alto. Sai para fora da boca, porque queremos tanto ir! Não vemos a hora.

A convocação é por índice ou convocação ?
B: Temos que ir para São Paulo para fazer a tomada de tempo lá, para eles fazerem o índice e nos chamarem. A convocação depende do índice. 
D: O índice é 1.18.
B: E estamos fazendo 1.17 nos treinos. Então está fácil! [risos]

Quem são os ídolos de vocês?
B: Do paralímpico é o Daniel Dias, e do Olímpico tem um monte. Um deles fala em inglês e eu não entendo.
D: Esse que fala em inglês é o Michael Phelps.
B: Mas no olímpico eu sou mais fã de quem nada peito, como o João Gomes Júnior e o Felipe França. 
D: Eu tenho vários. No Olímpico é o João e o Felipe Peaty que nadam peito, e no paralímpico tem o André Brasil, o Daniel Dias e Clodoaldo Silva. 

E no feminino?
B: Etiene Medeiros. E, no Paralímpico, Camile Rodrigues e Susana Schnarndorf Ribeiro. Queria assistir o filme da Suzana.
D: Tem também a Bethany Firth que nada peito, e a Ana Marcela.

Quais são as suas comidas preferidas?
D: Várias, menos fígado. Gosto de churrasco, macarrão, escondidinho de carne seca, arroz e feijão, lasanha...
B: Eu gosto de tudo também. O que a gente está fazendo mais é um churrasquinho depois do treino de sábado. 

O que vocês gostam de fazer quando não estão treinando e nadando?
B: Nessa quarentena tiramos um tempo para brincar no Tik Tok e com a nossa cachorrinha, a Dori.

Vocês são feras no tik tok então ?
B: Sim, a gente dubla, dança, canta... 
D: Mas em competições a gente gosta de fazer graça mesmo.